URBANIZAÇÃO E REGIME ALIMENTAR BRASILEIRO!
Na segunda metade do século XX, acelerou-se o processo
de urbanização e o Brasil passou a ter várias cidades com mais de 1
milhão de habitantes, ao mesmo tempo que o crescimento das comunicações
levou a costumes e hábitos alimentares diferentes que se difundiram pelo
território nacional, com tendência a homogeneização.
Na década de 1940 fazia-se uma distinção entre os frutos
importados, maçã, pera e uva, e os frutos da terra, como a banana, a
manga, o abacaxi e a laranja, considerando-se os primeiros típicos das
mesas ricas e os últimos das mesas pobres; mas ocorreram grandes
modificações e a uva, hoje, tornou-se um dos produtos básicos de cultivo
das áreas irrigadas do submédio São Francisco. Alimentos europeus e
americanos se difundiram de tal forma que hoje, no Brasil, consome-se
mais Coca-Cola do que guaraná. As lanchonetes que se espalham por
cidades grandes e médias difundem alimentos que não eram conhecidos na
década de 1940, como os sanduíches fast food e as massas
italianas.
Apesar da influência dos importados,
sejam frutos, massas ou conservas, a grande maioria da população mais
pobre do país continua carente de nutrientes e vítima não só da fome
aguda – falta absoluta de alimentos – como da fome crônica, em grande
parte provocada por uma alimentação inadequada, devida em parte à
propaganda comercial em favor de alimentos oriundos de outros países e
regiões.
Josué de Castro já chamava a atenção
para tudo isso que ocorre hoje no seu livroGeopolítica da Fome,
em vista do processo de colonização que gerou o subdesenvolvimento. Já
em meados do século XX, ele afirmava que o subdesenvolvimento não era
consequência de uma diferença na rapidez do desenvolvimento entre o país
desenvolvido e o subdesenvolvido, mas de uma distorção realizada no
país, hoje subdesenvolvido, pelo sistema colonial. O país que submetia
um outro ao seu domínio procurava dirigir-lhe a economia tendo em vista
atender aos interesses do país dominante, impedindo que o dominado se
voltasse para o atendimento das necessidades de sua população. Dava-se,
assim, um freio ao desenvolvimento do país dominado e este ia, aos
poucos, ou às vezes rapidamente, entrando em decadência. Para o mestre
pernambucano, o subdesenvolvimento era um produto, o resultado do
desenvolvimento. Essas ideias desagradaram às classes dominantes tanto
dos países desenvolvidos como dos subdesenvolvidos, porque também se
beneficiavam das distorções realizadas.
AS
IDEIAS BÁSICAS
Diante dessas reflexões
podemos chamar a atenção para o fato de que entre suas ideias básicas
avultavam:
a) a necessidade da realização de uma
reforma agrária;
b) a necessidade de desenvolvimento de uma educação
que não se limitasse apenas à alfabetização, mas que se fizesse
acompanhar de um processo educacional que atingisse problemas básicos,
como o alimentar;
c) a necessidade de se
reduzirem os desníveis de desenvolvimento regional tanto no território
brasileiro como entre os países, em escala internacional, a fim de que
se eliminasse o subdesenvolvimento.
Por essas
ideias gerais e por posições que as complementavam, lutou o cientista –
médico e geógrafo –, o professor, o cidadão e o político; a fidelidade a
esse ideal o fez enfrentar grandes campanhas movidas pelos grupos
conservadores e reacionários que culminaram com o exílio a que foi
condenado pelo governo de 64.
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